Foto: Por Felipe Restrepo Acosta - Obra do próprio, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=76597791
Santa Teresa: O bairro Carioca que já foi uma área de mineração
Hoje conhecido por suas ladeiras íngremes, charme boêmio e atmosfera cultural, o bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, esconde um passado pouco lembrado: a mineração. Antes de se transformar em um dos bairros mais pitorescos e visitados da cidade, Santa Teresa abrigava uma intensa atividade mineradora, que ajudou a moldar não só a sua paisagem, mas também sua história.
A região de Santa Teresa era conhecida pela exploração de pedras para construção civil. Esses materiais eram essenciais para o desenvolvimento urbano do Rio de Janeiro, uma cidade em crescimento que necessitava de recursos naturais para erguer seus prédios e pavimentar suas ruas. Com o tempo, a mineração contribuiu para a formação das encostas e áreas descampadas que hoje compõem o bairro.
Os terrenos dos morros que formam o conhecido bairro de Santa Teresa, ao longo dos séculos (desde meados do século XVII), serviram como pedreiras para a evolução do que conhecemos hoje como o Centro da Cidade do Rio de Janeiro. Essa área possuía muitas regiões alagadiças, pântanos e pequenas lagoas, que foram aterradas para dar lugar a edificações, calçamentos e praças, entre outros elementos que compunham a Capital do Brasil Colônia.
Um marco do uso destas ditas pedras de cantaria vindas dos morros de Santa Teresa é o que chamamos hoje de Arcos da Lapa. Outra grande estrutura que representa um cartão postal da cidade.
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A história dos Arcos da Lapa começa no século XVIII, com o nome de Aqueduto da Carioca. Os estudos para a construção iniciaram-se em 1600, mas a obra foi concluída quase 100 anos depois, entre 1723 e 1744. O objetivo era transportar água da nascente do Rio Carioca até o Largo da Carioca para abastecer a cidade, uma vez que, antes disso, a água era transportada em baldes, utilizando mão de obra escrava.
A construção ligava o morro do Desterro (Santa Teresa) ao de Santo Antônio, transportando água até o convento de mesmo nome, localizado no atual Largo da Carioca. Ali, foi instalado um grande chafariz de mármore com mais de 15 bicas de bronze. Esse chafariz colonial foi substituído no século XIX por outro projetado por Grandjean de Montigny, que foi concluído em 1848 e demolido em 1925.
Acervo: Rio de Janeiro. Eng. by Storer From a Drawing by Rich & Bates. Parto f the Aquadut With a Street Called mata Cavalos seen Through one of the Arches : The Building upon this hill is the Nunnery os Sancta Thereza. Fischer, Son & Co. London 1833. Litografia original aquarelada. 25 x 32 cm. Sem moldura.
Legenda: O Convento de Santa Teresa e os Arcos da Lapa, por volta do ano de 1820, em pintura do inglês Richard Bate
Embora as estruturas dos Arcos tenham sido inicialmente feitas com canos de ferro, esse material não resistia às condições climáticas e sofria com a corrosão recorrente. Assim, em 1744, houve a reconstrução dos Arcos do Aqueduto com uma base formada por pedras (provenientes dos morros mais próximos) e cal misturada com óleo de baleia. Essa mistura era a principal base da construção civil na época, amplamente utilizada em todo o país em obras de forte, igrejas e outras edificações que deveriam ser duradouras.
Por Marc Ferrez - http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=7646, Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=3471088
Porém, com o esgotamento dos recursos e as transformações urbanas, a mineração foi gradualmente abandonada, dando espaço para a ocupação residencial e cultural. A chegada do bonde, um ícone do bairro, na virada do século XX, facilitou o acesso ao local e transformou Santa Teresa em uma área de interesse para as elites cariocas, que passaram a construir suas residências no alto das colinas.
Essa transição de área minerada para um bairro residencial e cultural reflete a capacidade de reinvenção do espaço urbano. Hoje, Santa Teresa é conhecida por seus casarões históricos, ateliês de artistas, restaurantes e uma vibrante vida cultural.
Com o tempo, Santa Teresa evoluiu de uma área explorada pelos seus recursos naturais para um bairro símbolo de arte, cultura e história carioca. A transformação de áreas mineradas em regiões urbanas é um fenômeno comum nas grandes cidades, e o caso de Santa Teresa é um exemplo de como esses locais podem ser transformados e se tornar espaços de grande valor cultural e social.
Embora o passado com a mineração seja pouco comentado de sua história, ele ajudou a moldar o que hoje é um dos bairros mais emblemáticos do Rio de Janeiro.
Por Rodrigo Soldon from Rio de Janeiro, Brazil - Bondinho de Santa Teresa, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=17691122
Texto: Débora Toci e Luana Oliveira